Por que a Bélgica é um alvo de atentados terroristas?
Imediatamente após os atentados que deixaram 30 mortos em Bruxelas, na terça-feira (22), a pergunta urgente ao redor do mundo era “quem foi o responsável?”. Na sequência, vieram outros questionamentos, por exemplo, a respeito da logística dos ataques ou do significado da ação terrorista.
Mas, entre tantas dúvidas, há um ponto de interrogação pairando sobre o continente europeu desde o massacre em Paris, em novembro de 2015: por que a Bélgica concentra tantos militantes e serve de base para redes terroristas, e por que é agora um alvo para atentados?
Como não há uma resposta direta a essas questões, este Mundialíssimo blog prefere compilar uma lista de reportagens publicadas em diversos veículos de comunicação sobre a relação entre Bruxelas e o terror.
O APARATO DE SEGURANÇA BELGA É INSUFICIENTE
O site americano Vox entrevistou Peter Neumann, diretor do Centro Internacional para o Estudo do Radicalismo, sobre os ataques a Bruxelas. Segundo Neumann, os serviços de segurança belgas não são proporcionais à ameaça terrorista no país. “Se você tivesse conversado com funcionários de Inteligência e de polícia na Bélgica, eles teriam sido os primeiros a admitir que suas instituições não foram projetadas para o número de pessoas que eles precisam monitorar.”
A PRISÃO DE UM TERRORISTA PODE TER ANTECIPADO A AÇÃO
Publiquei na Folha uma entrevista com Guy Van Vlierden, especialista em terrorismo e em recrutamento pelo Estado Islâmico na Bélgica. Para Vlierden, o atentado de terça-feira pode ter sido antecipado pela prisão do terrorista Salah Abdeslam, um dos suspeitos pelos ataques a Paris. A célula terrorista pode ter se preocupado com as informações possivelmente reveladas por Abdeslam às autoridades belgas e decidido agir imediatamente.
BÉLGICA TEM MAIOR NÚMERO DE “JIHADISTAS PER CAPITA” DA EUROPA
Como lembra o jornal espanhol “El País”, a Bélgica é o pais europeu com mais “jihadistas per capita”. Quase 500 belgas viajaram à Síria e ao Iraque para combater em organizações terroristas. Entre eles, Brian de Mulder, filho de uma brasileira –conhecido no Estado Islâmico como “Brasileiro”.
BRUXELAS TEM UM SÉRIO PROBLEMA COM O ISLÃ RADICAL
O diário americano “Washington Post” analisa algumas das causas da presença de uma vertente radical do islã em Bruxelas. Por exemplo, alto desemprego, marginalização, discriminação e alienação. Essas são, é claro, características presentes também nas periferias de Paris e de Madri. Mas Molenbeek, o bairro relacionado aos ataques de Paris e de Bruxelas, está a duas paradas de metrô do centro da cidade, e ainda assim vive uma atmosfera de isolamento. Organizações radicais se beneficiam desse vazio, e recrutam ali militantes para suas organizações.
DESLOCAMENTO E COMUNICAÇÃO SÃO FÁCEIS NA EUROPA
Em uma era marcada pela facilidade de deslocamento e de comunicação, alguns analistas apontam vulnerabilidades no continente europeu. O jornal americano “New York Times” discute essa questão e sugere, também, que há deficiências na cooperação entre agências de inteligência europeias, o que poderia dificultar os esforços de combate ao terrorismo na região.
HOUVE ONDAS DE TERRORISMO NO PASSADO, NA BÉLGICA
Apesar de o ataque de terça-feira ter tido proporções históricas, segundo o jornal britânico “Guardian”, a Bélgica viveu outras ondas de terrorismo nos anos 1980 e 1990 relacionadas à instabilidade no Oriente Médio. Nos anos 1990, por exemplo, houve reflexos da guerra civil argelina no país, com a expulsão de ao menos um pregador da França para a Bélgica.
NÃO É APENAS A BÉLGICA: OUTROS PAÍSES TÊM SIDO ATACADOS
Por fim, o jornal francês “Libération” nos lembra de um ponto que deveria ser óbvio –a Bélgica não é o único país afetado pelo terrorismo. Desde os ataques de novembro a Paris, houve uma série de outros atentados relacionados ao Estado Islâmico. O de Bruxelas foi o 20º nesses quatro meses.