O que o grão-mufti de Jerusalém realmente disse a Hitler em 1941?

O que acontece quando um grão-mufti palestino, um nazista e um premiê israelense se encontram na mesma notícia? A julgar pelas manchetes desta semana, nada muito bom.

O primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu afirmou na quarta-feira que Adolf Hitler não queria exterminar os judeus até encontrar-se com o grão-mufti (líder religioso) de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, de quem veio o incentivo. A declaração levou a críticas vindas de todos os lados, e a esdrúxula mensagem enviada pelo governo alemão: na verdade, nós é que fomos responsáveis pelo Holocausto.

Segundo Netanyahu, o encontro teve a seguinte conversa:

Ele voou para Berlim. Hitler não queria exterminar os judeus, naquela época, ele queria expulsá-los. E Haj Amin al-Husseini foi até Hitler e disse, “Se você expulsar eles, eles vão todos vir para cá [para a então Palestina do mandato britânico]. “Então o que seu deveria fazer com eles?”, ele perguntou. Ele disse, “Queime eles”.

Mas, afinal, o que o grão-mufti falou a Hitler em seu encontro, em 1941?

O site israelense Times of Israel publicou a transcrição oficial da conversa entre ambos em 28 de novembro daquele ano. A fonte para o texto está em “Documents on German Foreign Policy 1918-1945”, série D, volume 13, Londres, 1964). É possível ler o PDF deste documento clicando aqui, e a conversa entre Husseini e Hitler está na página 881. Há também alguma documentação no livro “The Israel-Arab Reader: A Documentary History of the Middle-East Conflict”.

O que segue é um resumo do encontro.

 

O QUE O GRÃO MUFTI DISSE

INGLESES, JUDEUS E COMUNISTAS
O Grão-mufti agradeceu ao “führer” pela honra de tê-lo recebido e lhe disse que o “reich” alemão era admirado em todo o mundo árabe –convencido, então, de que a Alemanha venceria a guerra. Para o líder palestino, árabes e alemães eram aliados naturais porque compartilhavam os mesmos inimigos: ingleses, judeus e comunistas.

LEGIÃO ÁRABE
Haj Amin al-Husseini propôs a criação de uma Legião Árabe para auxiliar os esforços nazistas, incluindo entre suas fileiras prisioneiros árabes, argelinos, tunisianos e marroquinos na Alemanha.

UNIDADE TERRITORIAL
Os árabes buscavam, segundo o grão-mufti, independência e unidade territorial de Palestina, Síria e Iraque. Ele citou uma carta recebida vinda da Alemanha dando a entender que o país reconhecia as aspirações territoriais dos árabes, assim como apoiava a eliminação do lar judaico.

ESPERANÇA
O grão-mufti pediu por uma declaração pública de Hitler em apoio aos árabes, para que não perdessem a esperança pudessem esperar durante até mesmo um ano para concretizar suas ambições.

 

O QUE HITLER DISSE

SEM DÚVIDAS
Hitler afirmou que as atitudes da Alemanha em relação a essas questões estavam claras: guerra contra os judeus. Isso incluía oposição ao lar judaico na Palestina, um centro para a influência destrutiva do interesse judeu.

PROMESSAS SÃO INÚTEIS
O “führer” afirmou que as promessas platônicas seriam inúteis em uma guerra para destruir o povo judaico, e que, assim, a Alemanha apoiaria na prática os árabes envolvidos no mesmo intento. O país, afinal, estava em guerra com “duas cidadelas do poder judaico”: a Grã Bretanha e a Rússia soviética.

CHEGOU A HORA
Hitler assegurou o grão-mufti de que, quando seus Exércitos chegassem ao Cáucaso, ele próprio diria aos árabes que a “hora da libertação” havia chegado. Então a Alemanha destruiria os elementos judaicos residindo na esfera árabe, sob proteção britânica.