O que o look de Hillary Clinton diz sobre a política dos EUA?
Passei a manhã fascinado por uma história que li no jornal britânico “Guardian” sobre o “cold shoulder” de Hillary Clinton. Como entendo menos de moda do que de minorias étnicas, tive de fazer um intensivão lendo algumas revistas do setor antes de escrever este Mundialíssimo relato –e cheguei até aqui convencido da importância do ombro recortado da ex-secretária de Estado dos EUA.
A notícia das passarelas, para quem acompanha as tendências, é o retorno do vestido que deixa os ombros descobertos. O tal “cold shoulder” (ombro frio). Hillary Clinton usou esse look em 1993, para um jantar de Estado como primeira-dama, vestida por Donna Karan. À época, foi criticada pela escolha, assim como é hoje perseguida por usar terninhos. Mas, aposta a revista “Vogue”, foi Clinton –hoje candidata a presidente dos EUA– quem provavelmente popularizou o ombro nu.
A história do “cold shoulder” está pululando no mundo da moda desde que Clinton deu uma entrevista à atriz Lena Dunham. O vídeo foi ao ar nesta semana. Falando sobre a peça que vestiu em 1993, a candidata comentou: “Como tudo o que eu faço, foi controverso. Dificilmente sou um ícone fashion”. Segundo o “Daily Mail”, o ombro-nu desenhado por Donna Karan lhe custou, à época, US$ 1.375, além de críticas a um suposto excesso de sensualidade.
Como Barack Obama e sua primeira-dama, Michelle, Hillary está constantemente no radar devido ao que escolhe no armário. Em 2007, por exemplo, o jornal americano “Washington Post” escreveu sobre seu decote. A “Harper’s Bazar”, por sua vez, tem uma hipnotizante galeria com sugestões de modelito à possível futura presidente dos EUA.
Mas o que tudo isso tem mesmo a ver com política? Em primeiro lugar, porque a entrevista de Hillary nesta semana não é uma coincidência. Faz parte de sua campanha eleitoral. A menção ao vestido e as brincadeiras em relação a suas escolhas na moda tampouco parecem acidentais. O “Observer” notou, já no início do mês, como gurus da moda estão se esforçando em tornar a candidata à Presidência “mais palatável”.
“Para a eleição de 2016, Hillary finalmente descobriu como usar o terninho como vantagem política”, diz o texto. A reportagem nota como, ciente de que um mundo machista irá prestar atenção ao seu estilo (e não ao dos candidatos homens), a candidata está usando esse holofote a seu favor. Escreve o “Observer”:
Candidatos políticos adotaram as mídias sociais, abraçaram movimentos de raiz e utilizaram avanços tecnológicos. Agora é importante para ambos os sexos que adicionem suas aparências a essa lista. Ao cooptar a narrativa ao redor de sua aparência, Hillary está informando a todos que ela não está só participando da piada, mas quer também ser a última a rir.
Ainda acha tudo isso uma bobagem? Então recomendo uma última leitura: uma reportagem publicada em 1º de setembro na “NY Mag” sobre como Hillary está vencendo a corrida presidencial –no quesito fashion. Não que seja a mais bem-vestida, mas que esteja conquistando o apoio de personagens influentes no mundo na moda, como Anna Wintour, editora-chefe da revista “Vogue”.
Considerando quão importantes essas pessoas são na hora de angariar fundos para campanhas eleitorais, escreve a “NY Mag”, valerá a pena que Hillary confraternize com o mundo da moda. “E, quem sabe, Karan e companhia podem dar a ela algumas dicas de estilo no meio do caminho.”