O que o atentado em Charleston diz sobre o racismo nos EUA?
Há uma semana, em 17 de junho, o terrorista Dylann Storm Roof, 21, invadiu uma igreja histórica da comunidade negra em Charleston, na Carolina do Sul (EUA), e matou nove pessoas. Ele foi preso no dia seguinte. O ataque, segundo as informações disponíveis até agora, foi motivado pelo fato de que as vítimas eram negras.
Epa. Mas ainda existe racismo nos EUA?
Sim. O presidente Barack Obama discutiu essa questão em uma entrevista na segunda-feira (22), afirmando que “não estamos curados dela”. “Não é só uma questão de ser educado e não dizer a palavra ‘nigger’ em público. Essa não é a medida de se o racismo ainda existe. As sociedades não apagam completamente, de uma noite para a outra, tudo o que aconteceu 200 ou 300 anos antes.”
Qual é a medida, então?
A organização Race Forward publicou uma série de vídeos em que explica como funciona o racismo, na prática. Por exemplo, nas imagens abaixo, o apresentador exemplifica essa questão a partir de alguns números: brancos e negros têm a mesma chance de fumar maconha, mas os negros tem quase quatro vezes mais chances de serem presos por isso. É possível ativar legendas no vídeo clicando no ícone de roda dentada, no canto inferior direito.
Você pode me dar outro exemplo do impacto do racismo nos EUA?
Sim. A editoria da Arte da Folha produziu, com base em informações da agência de notícias AFP e do FBI, o gráfico abaixo para ilustrar essa resposta. Os crimes cometidos por ódio — como o atentado à igreja de Charleston, na semana passada — têm por principal razão a raça das vítimas. Na maior parte dos casos, os alvos são negros.
Por que você está usando as palavras “atentado” e “terrorismo”? O atirador não era muçulmano!
O atentado à igreja de Charleston trouxe a discussão, na semana passada, sobre se esse ataque constitui ou não terrorismo. “Para Fredrick Harris, diretor do centro de estudos sobre política e sociedade afro-americana da Universidade Columbia, a chacina é, sem dúvida, um ato terrorista”, escreve Giuliana Vallone, correspondente da Folha em Nova York.
Eu queria ler mais alguma coisa sobre essa questão…
Ótimo. Raul Juste Lores, correspondente da Folha em Washington, escreveu uma interessante reportagem sobre a história de Charleston, que ainda carrega marcas da escravidão. Se você tem um pouco mais de tempo livre, deveria ler este texto publicado pela revista “Atlantic” sobre a Guerra Civil americana. Uma última sugestão: este texto do jornal “New York Times” sobre a “supremacia branca”.