O Estado Islâmico está ganhando a guerra?
Em 25 de março, rebeldes tomaram o controle da cidade síria de Busra al-Sham. Três dias depois, avançaram contra Idlib. Em 1º de abril, conquistaram quase todo o campo de refugiados palestinos de Yarmuk, próximo a Damasco. No mesmo dia, ocuparam a fronteira de Nassib, entre Síria e Jordânia. Em 25 de abril, caiu Jisr al-Shughr, um importante centro estratégico do regime. Em 20 de maio, há alguns dias, essa organização terrorista passou a controlar a cidade histórica de Palmira.
Os dois últimos meses não foram de muito otimismo na Síria, enquanto cresce a sensação de que o regime de Bashar al-Assad é incapaz de garantir a segurança no país –onde terroristas já controlam 50% do território. Mas o desconsolo é forte também no vizinho Iraque, onde o Estado Islâmico tomou no domingo (17) a cidade de Ramadi, na província de Anbar.
A pergunta, então:
O Estado Islâmico está ganhando a guerra?
Há avanços e ganhos estratégicos. Palmira, por exemplo, conecta Damasco à cidade de Deir Ezzor. Mas o Estado Islâmico continua sendo uma organização terrorista com a inimizade de toda a região –essa milícia propõe, afinal, um modelo político que não respeita fronteiras ou Estados modernos, o que dificilmente agrada aos governos vizinhos. Há, além disso, oposição de uma coalizão internacional que inclui os EUA.
Mas por que eles continuam se expandindo?
O cálculo era, há um ano, que os ataques aéreos afetariam a moral do Estado Islâmico e deteriam suas conquistas territoriais. Nesta semana ficou evidente, porém, que a estratégia precisa ser revista. Mas há um sério problema, que é a resistência da coalizão em envolver soldados no corpo a corpo contra a organização terrorista, principalmente diante do desastre político que foi a invasão americana do Iraque em 2003.
De onde vem a força do Estado Islâmico?
De uma série de fatores. Por exemplo, de seu apelo a jovens ao redor do mundo, que veem nessa organização terrorista uma oportunidade para aventurar-se em um projeto ideológico. Não à toa as propagandas do Estado Islâmico se parecem com batalhas de jogos eletrônicos. Além disso, com o controle da extração de petróleo na Síria e no Iraque e de campos de gás natural, o Estado Islâmico consegue financiar seu aparato nesse extenso território.
Mas como os Exércitos da Síria e do Iraque não conseguem resistir?
Uma reportagem do jornal britânico “Guardian” cita um militar iraquiano dizendo que o problema, nesse caso, não é a força do Estado Islâmico. É a fraqueza dos Exércitos regionais. No Iraque, por exemplo, há um grave problema conhecido por “astronautas” –soldados que subornam seus comandantes para não ter de lutar. Essa foi uma das razões pelas quais terroristas não encontraram resistência para tomar a cidade de Mossul, em 2014. Além disso, diante de uma organização que se promove por meio de vídeos em que decapitam e queimam seus inimigos vivos, há uma alta taxa de deserção na Síria e no Iraque.
Quão preocupante é o fato de que eles controlam metade da Síria?
Bastante. Mas essa informação precisa ser atenuada pelo fato, nem sempre citado, de que grande parte desse território é um imenso e inóspito deserto. A noção de “controle territorial” ali é discutida por analistas, porque o fator principal não é a extensão no mapa, e sim a possibilidade ou não de utilizar estradas para locomover armamentos. Há institutos que propõem, por exemplo, a ideia de territórios “sob influência” do Estado Islâmico, mais do que “sob controle”.
O que fazer, então?
Essa é uma boa pergunta e, aparentemente, por ora sem resposta. Mas analistas apontam, por exemplo, a necessidade de a comunidade internacional tratar o Estado Islâmico com a seriedade com que essa própria organização terrorista se trata –ou seja, estudando suas estruturas para combatê-los. Nesse sentido, pode ser considerada uma vitória estratégica a morte de um dos responsáveis pelo financiamento do Estado Islâmico, após uma operação americana.