Como é o Nepal?
No sábado (25), há quase uma semana, um forte terremoto destruiu parte do Nepal e deixou ao menos 6.000 pessoas mortas. De acordo com as Nações Unidas, 75 mil pessoas foram deslocadas e 1,4 milhão necessita de ajuda para se alimentar nos próximos três meses. O governo estima que 70 mil casas foram destruídas, e outras 530 mil, danificadas.
O Mundialíssimo blog está em Katmandu desde quarta-feira. Compilo abaixo algumas perguntas-e-respostas sobre o Nepal, para aqueles que estão se perguntando como é o país, para além do desastre natural.
Como é o Nepal?
Bastante pobre. Grande parte da crise humanitária, aqui, não é resultado do terremoto, e sim de décadas de carência. As ruas na capital são, em diversas regiões, de terra. Há crateras no pouco asfalto, cobertas pela água da chuva. O acesso a água e saneamento é problemático, e doenças como cólera afetam a população.
Como é a geografia?
Montanhosa. Oito das montanhas mais altas do mundo estão no país, incluindo a campeã, o Everest. O Nepal é, por isso, um importante destino para aventureiros. O país faz fronteira com China e Índia, e na região de Katmandu tem fauna e flora variadas –para além das diversas frutas que vi nascer nas ruas, principalmente mamão, encontrei lagartos coloridos e macaquinhos.
Em que os moradores acreditam?
A maior parte é hindu: ou seja, acredita em um complicadíssimo panteão, como os indianos. Katmandu está repleta de pequenos templos, alguns deles com figuras de deuses, outros com dois olhos pintados observando os transeuntes. Não é a cena mais comum da capital, mas há também vacas andando pelas ruas. Há minorias budista e muçulmana.
É muito diferente do Brasil?
Culturalmente, sim. Assisti, por exemplo, a rituais de cremação em um tempo hindu: o corpo é preparado, colocado em uma pira funerária e incinerado a partir da boca da pessoa morta. As cinzas são, depois, jogadas no rio. Além disso, como na Índia, os moradores do Nepal se cumprimento unindo as palmas das mãos e dizendo “namastê”. Ah, e os carros transitam pela esquerda, como na Inglaterra.
O que se come?
Parece muito com a Índia, nesse sentido. Muito curry e muita pimenta. No meu primeiro dia, na região de Trishuli, comi um arroz coberto por uma pasta picante de lentilha (“dal”). Também se come muito um pastel chamado de “momo”, que se parece com um “dumpling” chinês.
Como é o governo?
O país viveu uma guerra civil para, em 2008, tornar-se uma república. O poder alternou, nos últimos anos, entre diversos partidos, com embates entre maoistas e marxistas-leninistas. O premiê, hoje, é Sushil Koirala, do partido de centro-esquerda Congresso Nepali. Ele está no poder desde 2014, após sucessivos golpes. Essa alternância no governo, somada à infraestrutura precária, causam uma espécie de apatia na população em relação ao Estado.
Isso tem algum impacto no auxílio pós-terremoto?
Sim. O resgate das vítimas foi lento e improvisado, como relata meu colega Marcelo Ninio. Diversos vilarejos esperaram por dias até receber qualquer auxílio, e diversos deles permanecem isolados –em parte pelas condições extremas, em parte também porque têm acesso precário à capital desde antes do tremor. A incapacidade do governo tem irritado moradores locais.
E o patrimônio histórico?
Houve um sério dano. O repórter de arte da Folha Silas Martí escreveu sobre a destruição da memória, no blog Plástico. Mas ainda há uma infinidade de templos que permanecem de pé, no país, como testemunhas de uma rica tradição hindu ali. Assim que o atendimento às vítimas prosseguir, será a hora de o Nepal –com auxílio internacional– fazer o balanço do dano e trabalhar em sua reconstrução.
Como ajudar?
Diversos países estão enviando equipes ao Nepal, incluindo médicos e especialistas em resgate. Israel, por exemplo, montou um hospital. Mas há uma série de outras maneiras de ajudar o país. O jornal local “Nepali Times” publicou uma lista de maneiras de auxiliar no pós-terremoto.