O que é o genocídio armênio?

Diogo Bercito

Desde domingo (19), a Folha tem publicado diversas reportagens sobre o genocídio armênio. Estive na Armênia com a fotógrafa Cassiana Der Haroutiounian, por exemplo, onde visitamos vilarejos para recolher relatos orais sobre esse evento histórico. A repórter Sylvia Colombo entrevistou o historiador Thomas de Waal sobre o uso do termo. Alexandre Rodrigues visitou Van, na atual Turquia. O jornal publicou, também, um editorial sobre o massacre de cristãos durante o Império Otomano.

Como é justamente nesta sexta-feira (24) que se relembra o centenário do genocídio armênio, e como o tema segue em debate ainda hoje, o Mundialíssimo blog responde abaixo a quatro perguntas relacionadas a esses massacres.

HOUVE UM GENOCÍDIO ARMÊNIO?
Não há consenso. Mas a maioria dos historiadores, apoiada pela Associação Internacional dos Acadêmicos de Genocídio, reconhece que o massacre de armênios durante o Império Otomano foi um genocídio. A questão técnica é que diversas definições do que é um genocídio estipulam que é necessário ter havido “intenção” de exterminar um grupo étnico. No caso do genocídio armênio, ocorrido há cem anos, há especialistas que afirmam não ser possível provar que o Império Otomano realmente tinha o projeto de eliminar o povo armênio.

POR QUE ARMÊNIOS ERAM PERSEGUIDOS?
Por diversas razões. Em primeiro lugar, porque eram cristãos, em um império majoritariamente muçulmano –onde, apesar de conviverem em paz por séculos, as minorias religiosas não tinham o mesmo status da maioria islâmica. Afirma-se, ainda, que o sultão Abd al-Hamid 2º ordenou diversos massacres de armênios no fim do século 19 por nutrir uma espécie de obsessão contra essa etnia. Além disso, armênios apresentavam uma série de reivindicações às autoridades otomanas, incluindo direitos mais amplos a cristãos. Por fim, aliados do inimigo Império Russo, os armênios eram vistos pelo Império Otomano como um “inimigo interno”.

O BRASIL RECONHECE O GENOCÍDIO ARMÊNIO?
Não. Mas diversos outros países também não, como os EUA e o Reino Unido. Mas há que se dizer que as relações internacionais não são necessariamente pautadas pelo que podemos entender como uma posição moral. A Turquia, que nega o genocídio armênio, é um ator-chave no Oriente Médio, além de ser parte da Otan (aliança militar ocidental). Reconhecer o genocídio armênio levaria a atritos diplomáticos com as autoridades turcas.

COMO CONHECER MELHOR A ARMÊNIA?
A USP tem um curso de língua e cultura armênia, dentro da graduação em letras. As disciplinas são optativas para os estudantes de outros cursos. Há também em São Paulo igrejas da comunidade armênia, e em algumas delas as missas são celebradas em língua armênia. Por fim, outra maneira de aproximar-se dessa interessante comunidade é pelo estômago –em restaurantes como o Sainte Marie (r. Dom João Batista da Costa, 70, tel. 0/xx/11/3501-7552) e o Garabed (r. José Margarido, 216, Santana, tel. 0/xx/11/2976-2750).