As surpresas das eleições israelenses

Diogo Bercito

Ninguém estava certo. As pesquisas, na sexta-feira (13), previam a derrota política de Binyamin Netanyahu. Analistas discutiam as razões pelas quais ele estaria arruinado. A mídia local previa um futuro sem o premiê. A mídia internacional se perguntava qual seria o impacto de uma vitória da União Sionista, de centro-esquerda, para as negociações de paz com palestinos.

Mas Netanyahu venceu com 30 assentos contra os 24 de Isaac Herzog e deve, assim, coroar-se mais uma vez durante as próximas semanas como primeiro-ministro –dias depois de ter dito que, caso eleito, não haverá um Estado palestino.

Essa não foi, no entanto, a única surpresa das eleições israelenses. O jornal local “Haaretz” reuniu seis delas: “israelenses acordaram de manhã depois do pleito ou sentindo que um milagre noturno aconteceu, ou que seu pior pesadelo se realizou”. Resumo, abaixo, quatro dos acontecimentos inesperados analisados pelo “Haaretz”.

A DIMENSÃO DA VITÓRIA DE NETANYAHU
“Provavelmente a única pessoa que não se surpreendeu com triunfo é o próprio Binyamin Netanyahu”. O premiê israelense sobreviveu a pesquisas negativas, escândalos envolvendo sua mulher, declarações contra a população árabe-israelense, seu posicionamento contra um Estado palestino e a aliança da esquerda contra sua reeleição. A campanha “qualquer um, menos Bibi” não deu certo, e Netanyahu foi salvo por seus eleitores. O que não pode ser dito sobre a esquerda.

A DEVASTAÇÃO DO MERETZ, PARTIDO DE ESQUERDA
Como diz o “Haaretz”, “ninguém esperava que o Meretz fosse bem nas eleições — mas poucos esperavam que tivesse de lutar para sua própria sobrevivência, rezando para ter assentos o suficiente no Parlamento para superar a barreira eleitoral e ser salvo da obscuridade política”. A campanha negativa contra Isaac Herzog e sua União Sionista não ajudou, analisa o jornal. Zehava Galon, líder do Meretz, assumiu a responsabilidade pelo fracasso do partido e renunciou ao posto.

A INDESTRUTIBILIDADE DO CHANCELER LIEBERMAN
Já se comemorava, durante a semana, o futuro desaparecimento do chanceler israelense Avigdor Lieberman, que há anos incomoda o público local e externo com declarações estapafúrdias (como recentemente sugerir que árabes-israelenses fossem decapitados). Anteriormente apontado favorito da população de origem russa em Israel, o chanceler nascido na Moldávia de fato perdeu espaço, caindo de 15 assentos no Parlamento (2009) para 6 (2015). Mas continua no jogo político e deve manter-se no governo de Netanyahu.

O FRACASSO DAS BOCAS DE URNA
Se analistas aprenderam apenas uma coisa nessas eleições, espera-se que tenha sido a fragilidade das pesquisas e das bocas de urna em Israel. Todas elas estavam equivocadas, nos últimos dias. “Ninguém esperava que fossem precisas, mas a diferença entre as sondagens e os resultados é chocante”, escreve o “Haaretz”.