Quão ruim está a Guiné Equatorial?

Diogo Bercito
Filho de ditador da Guiné Equatorial (de azul) acompanha desfile da Beija-Flor. Crédito Daniel Marenco/Folhapress
Filho de ditador da Guiné Equatorial (de azul) acompanha desfile da Beija-Flor. Crédito Daniel Marenco/Folhapress

A linha do tempo do meu Facebook foi tomada, ontem à noite, pela notícia de que a Beija-Flor venceu no Carnaval. Mas samba não seria assunto deste Mundialíssimo blog, não fossem as implicações políticas: o desfile da escola vencedora foi patrocinado pela Guiné Equatorial. Foram R$ 10 milhões investidos no tema, que fazia homenagem a uma ditadura.

Ditadura? Não é uma palavra muito forte?
Bem, o presidente, Teodoro Obiang, está no poder desde seu golpe de Estado, em 1979, o que dificilmente foge da definição de “ditadura”.

Quem é Obiang? O que sabemos sobre ele?
Seu nome completo é Teodoro Obiang Nguema Mbasogo. Aos 72 anos, tem na avaliação da revista “Forbes” uma fortuna pessoal de US$ 600 milhões. Ele assumiu a Presidência do país após depôr Francisco Macías Nguema, seu tio.

Sobre o país, a quantas anda?
Mal. A produção de petróleo garante o maior PIB per capita do continente. Mas a Guiné Equatorial (colônia espanhola entre 1778 1968) está na posição 144 de 187 países no quesito Índice de Desenvolvimento Humano. A rede britânica BBC publicou recentemente uma análise sobre a pobreza ali.

Putz. E em termos de direitos humanos?
Nada bem. O relatório da organização Human Rights Watch põe ênfase nas práticas de repressão, que assolam o país. A Guiné Equatorial é condenada, por exemplo, pelo uso de tortura em suas prisões –assunto de diversos informes da Anistia Internacional.

Qual é a relação do Brasil com a Guiné Equatorial?
De proximidade em relação a Obiang e seu filho, Teodorín. Segundo reportagem de Patrícia Campos Mello, o ex-presidente Lula esteve no país em 2010 e elogiou o ditador. Em 2013, voltou à capital, Malabo, levando representantes de empreiteiras. Teodorín, informa a repórter, é suspeito de lavar dinheiro no Brasil com compra de imóvel.

A prática é isolada, entre escolas de samba?
O colunista Bernardo Mello Franco publicou nesta quinta-feira (19) um interessante texto de título “o crime compensa na Sapucaí”. Para ele, “não basta reclamar da Beija-Flor”. “Uma conversa a sério sobre o financiamento do Carnaval do Rio precisa discutir os repasses de verba pública às escolas de samba e o controle da festa mais popular do país por uma entidade ligada ao crime, com as bênçãos do Estado e da prefeitura.”

A escola campeã, comandada há décadas por um contraventor de Nilópolis, está longe de ser exceção. A simpática Portela tem como patrono um miliciano, a Mocidade Independente pertence a um capo dos caça-níqueis, a Imperatriz Leopoldinense está nas mãos de um ex-torturador que virou bicheiro.