Por que jovens estão nas ruas, em Hong Kong?

Diogo Bercito

A fórmula parece ser universal: manifestações populares, quando enfrentadas pelas forças de segurança com violência, tendem a se tornar mais graves. Assim, vimos nesta semana protestos em Hong Kong serem cobertos pela névoa do gás lacrimogêneo do governo –apenas para reforçar a mensagem de que suas reivindicações são urgentes. Mas quais? Abaixo, algumas perguntas sobre a crise hongkonguense.

Você pode explicar em um tuíte o que está acontecendo em Hong Kong?
Como não? Lá vai, em 140 caracteres: “Manifestantes pedem, em Hong Kong, mais direitos democráticos. Reação violenta da Polícia complica essas manifestações, que seguem nas ruas.” 

Manifestante envolto em uma nuvem de gás. Crédito Xaume Olleros/AFP
Manifestante envolto em uma nuvem de gás. Crédito Xaume Olleros/AFP

Talvez 140 caracteres não sejam o suficiente. De que direitos democráticos você está falando?
A China anunciou, recentemente, que a próxima eleição para um líder do Executivo em Hong Kong será realizada, em 2017, por sufrágio universal. Mas o governo central chinês avisou, também, que os candidatos ao cargo devem ser antes aprovados por um comitê leal a Pequim –o que ativistas de Hong Kong consideram inaceitável.

Manifestações no domingo, reprimidas pela Polícia. Crédito Aaron Tam/AFP
Manifestações no domingo, reprimidas pela Polícia. Crédito Aaron Tam/AFP

O que a China tem a ver com isso?
Bom, Hong Kong pode ser um território com diversas liberdades políticas. Ali, a liberdade de expressão e de manifestação existe, ao contrário do que ocorre no restante do território chinês. Mas Hong Kong ainda está sob o poder da China, e assim os seus cursos permanecem atrelados.

Mas por quê?
O Reino Unido devolveu Hong Kong à China em 1997, depois de 150 anos de governo. O território era a última de suas possessões imperiais. A China prometeu, então, manter as liberdades existentes em Hong Kong a partir do acordo que passou a ser conhecido como “um país, dois sistemas”. Desde então vigora a ideia de que, em 2017, Hong Kong poderá eleger livremente o chefe de seu Executivo. Por isso a constatação de que os candidatos terão de ser aprovados pela China desagradou os ativistas.

A localização de Hong Kong no mapa chinês
A localização de Hong Kong no mapa chinês

É razão para ir às ruas?
Para esses moradores, sim. A China tem dado sinais políticos  que incluem afirmações de que a autonomia de Hong Kong não é um poder inerente, e sim emana somente da autorização da liderança central. Assim, manifestantes têm entendido que a liberdade excepcional com que vivem ali não está garantida.

Há diferença cultural entre uma pessoa nascida em Hong Kong e outra nascida na China continental?
Sim. Eu nunca estive em nenhum dos dois países, mas os relatos são de que os moradores de Hong Kong se consideram “mais avançados”. Patrick Chovanec, um especialista em China, explica em uma série de tuítes qual é sua perspectiva a repeito da questão. Vale a pena conferir o perfil dele.

É só disso que eles têm a reclamar?
Não exatamente. A economia de Hong Kong, outrora símbolo modernidade, pode estar fadada a uma recessão. Além da desaceleração da economia, Hong Kong é vítima do declínio do mercado de luxo, que foi um de seus principais motores. O gráfico abaixo, com informações do Trading Economics, mostra o desenvolvimento do PIB de Hong Kong desde 2012. Clique aqui para mais dados econômicos.