Como foi a guerra na faixa de Gaza?
Cruzei as fronteiras israelenses mais uma vez, nesta semana, para visitar a faixa de Gaza e investigar como está esse pobre estreito de terra desde o cessar-fogo de 26 de agosto –que, cumprindo um mês, volta a ser discutido no Egito, como escrevi na edição desta terça-feira da Folha (clique aqui para ler).
Gaza é um dos assuntos mais importantes do noticiário internacional desses meses recentes. Assim, não podemos seguir adiante sem entender o que está acontecendo por ali. O Mundialíssimo blog reúne, abaixo, algumas respostas –mas ainda resta um sem-número de perguntas a serem feitas. Conto com vocês para receber algumas delas por e-mail (diogo.bercito@grupofolha.com.br). Mas, enquanto isso:
Quantos palestinos morreram durante a guerra?
Muitos, a maior parte deles civis. Veja na ilustração abaixo. Israel afirma que a morte de não combatentes é resultado da estratégia do Hamas de usar civis como escudos humanos, disparando foguetes de áreas com concentração de civis e de regiões que deveriam ser neutras, como escolas e hospitais. Por outro lado, a faixa de Gaza é uma região extremamente densa em termos populacionais, o que faz do uso da força uma ação em si arriscada.
Quantos israelenses morreram? É um número parecido?
São menos mortos, em parte porque Israel se defende com um sofisticado sistema chamado Domo de Ferro, que intercepta foguetes palestinos. E em parte, também, porque o armamento do Hamas é rudimentar, quando comparado com o israelense –seus foguetes, por exemplo, não podem ser mirados com precisão contra um alvo específico.
Foi o pior conflito recente em Gaza?
É difícil falar em “pior” e “melhor” quando centenas de pessoas foram mortas. Mas, em termos de baixas, a operação Margem Protetora foi a mais violenta nos últimos anos e durou mais do que as duas anteriores (Pilar Defensivo e Chumbo Fundido) somadas. Não há uma só explicação para a gravidade desse conflito, mas ambas as partes pareceram por um longo tempo desinteressadas em uma real mobilização pela trégua.
A faixa de Gaza sempre foi assim?
Não. No passado, foi um importante entreposto comercial, com civilizações disputando o seu controle. No começo do século passado, era território otomano e passou, com o fim do império, ao mandato britânico. A história é complicada e envolve o surgimento do Estado de Israel e a colonização de Gaza, não cabendo neste relato. Mas o momento decisivo na história recente é a saída das tropas israelenses, em 2005, e a rápida tomada de controle ali pela facção palestina Hamas, inimiga da Israel.
É verdade que o Hamas cava túneis para invadir Israel?
É. Visitei dois desses túneis nos últimos meses, e recentemente escrevi uma reportagem sobre a “faixa de Gaza subterrânea” (clique aqui para ler). Os túneis existem e são perigosos — servem, por exemplo, de ponto de partida para ataques terroristas contra a população israelense. Mas as passagens entre Gaza e o Egito já serviram também, no passado, para o contrabando de mercadorias, aliviando assim a pressão no estreito de terra durante o bloqueio israelense.
Como você entra e sai da faixa de Gaza? Eu posso ir também?
A não ser que seja jornalista ou funcionário de uma organização humanitária, não pode ir não. Gaza é um lugar perigoso e vive hoje sob controle externo israelense e interno da facção palestina Hamas. É preciso apresentar uma credencial de imprensa na fronteira israelense de Erez (veja o mapa abaixo) e pedir um “visto” do Hamas com antecedência. Há, além disso, um posto de controle da facção Fatah, entre o checkpoint de Israel e o do Hamas.
Como é estar em Gaza durante uma guerra? Dá medo?
Dá muito medo. Quem faz esse tipo de trabalho, como os jornalistas, é treinado e sabe reagir em situações de emergência. Além disso, vestimos coletes a prova de balas e capacetes de proteção. Mas não adianta — quando a bomba explode do seu lado, é difícil não se preocupar. Quanto estive na faixa de Gaza durante a última operação militar produzi um vídeo sobre isso para a TV Folha. Aí embaixo: