O que está acontecendo na Escócia?

Diogo Bercito

Estava pesquisando na enciclopédia de línguas Omniglot para saber como escoceses dizem “sim” e “não” na língua gaélica, que ainda é usada no país ao lado do inglês (veja exemplos de frases clicando aqui). A Escócia vota, afinal, na quinta-feira (18) para decidir se continua fazendo parte do Reino Unido ou se torna independente.

Para minha surpresa, a língua gaélica não tem palavras específicas para responder “sim” e “não”, o que talvez faça deste voto um pouco mais curioso. Mas, para além da linguística, a questão do separatismo escocês é urgente na Europa, e vai ser interpretada por outros movimentos de independência –como o catalão– como uma forte mensagem.

Assim, a pedido de leitores, o Mundialíssimo responde abaixo a algumas das perguntas a respeito do tema. Em homenagem ao gaélico, prometo não responder com “sim” ou “não”. Mas, antes, o clássico discurso separatista de Mel Gibson em “Coração Valente”.

Eu tenho dito a todo o mundo que apoio ou deixo de apoiar a independência escocesa. Mas, para ser sincero, não sei do que estou falando. Você pode me explicar em 140 caracteres?
Escoceses vão às urnas em 18 de setembro para votar se querem ou não ser independentes do Reino Unido. Pesquisas apontam liderança do “não.

Se a maioria votar “sim”, vai existir uma Escócia independente?
Vai. Mas é previsto um período de transição. Veja abaixo as respostas às três questões centrais sobre esse voto.

É uma questão antiga, certo? Como o “Coração Valente”, aquele filme com o Mel Gibson…
Errado. O movimento atual de separação da Escócia está mais relacionado, na verdade, com a vitória do Partido Nacionalista Escocês na eleição parlamentária local em 2011. Com a maioria dos votos, os políticos foram capazes de organizar o voto.

Como seria uma Escócia independente? Quem vai ser o rei escocês?
A rainha Elizabeth continua sendo chefe de Estado ali, como é em algumas ex-colônias britânicas. Mas haveria uma série de outras mudanças no país –por exemplo, a Escócia teria de decidir entre manter a libra esterlina, criar sua própria moeda ou aderir ao euro. Ademais, a região seria marcada pela cultura escocesa, o que já acontece hoje, incluindo uísque, pôneis e saias masculinas. O desenho do ilustrador William Mur retrata abaixo o panorama geral.

Eu não vou votar. Mas, se estiver em uma discussão sobre o assunto, quais argumentos posso usar para ambos os cenários?
Há razões políticas, econômicas e sociais por uma Escócia independente. Abaixo desta resposta você vai encontrar uma lista delas, que editei a partir de uma ilustração publicada anteriormente pelo jornal. Em tempos de crise, ideias como a de criar empregos na Escócia farão sentido. O “não” pode ser justificado, por sua vez, pela incerteza –afinal, apesar de todas as previsões, não sabemos como será o dia em que os escoceses acordarem independentes do Reino Unido.

Essas coisas se decidem, muitas vezes, pelo bolso. Certo?
Também. É um argumento daqueles que fazem campanha pelo “sim”. A economia seria favorecida pela exploração do petróleo do mar do Norte, que hoje a Escócia divide com o restante do Reino Unido. Por outro lado, os detratores da independência escocesas apontam que haverá altos custos para manter os gastos do Estado ali, hoje pagos pelos britânicos.

De quantos barris de petróleo estamos falando?
Muitos. Segundo uma reportagem da rede britânica BBC (clique aqui para ler), 40 bilhões de barris já foram extraídos no mar do Norte e pode ainda haver 24 bilhões deles, o que significa entre 30 e 40 anos de produção. Em 2018, o governo escocês prevê arrecadar R$ 216 bilhões em impostos.

Eu conheço algum escocês?
Provavelmente. Além dos amigos que você talvez tenha feito por aquelas bandas, há um rol de escoceses famosos. A Folha publicou, ontem, o rosto de alguns deles, encabeçados pelo ator Sean Connery. Só ficou faltando uma das figuras mais emblemáticas do país: o temível monstro do lago Ness (clique aqui para ir ao verbete da Wikipedia).